domingo, 22 de fevereiro de 2009

Equador







Pela primeira vez em muitos anos, deparei-me seguidor assíduo de uma telenovela da TVI, o Equador. Não tanto por ter lido a obra em que a novela se inspira. Muito menos por a achar um trabalho de altíssima qualidade. Pessoalmente, julgo que um projecto televisivo que conte com a presença da Alexandra Lencastre fica, no mínimo, com a sua qualidade altamente ameaçada.
Ainda assim, sigo essa novela com um certo prazer. Adoro filmes de época. Há neles como que uma sub-reptícia nostalgia por um tempo que já passou. Depois de as coisas acontecerem, é quase irresistível não reflectir no que teria sido a vida, se tivéssemos agido de maneira diferente. Talvez seja precisamente aí que resida o interesse de um filme de época; na reflexão de quem, já sabendo o resultado, se limita a contemplar antigas encruzilhadas com aquele sorriso manhoso, porém cansado, de quem revisita uma questão de cuja solução residiria a cura de muitos males. Revendo-se a questão, apercebemo-nos na tendência dos Homens para andarem em círculos. Talvez por isso goste de filmes de época. Gosto de revisitar antigos pontos de partida. É um pequeno intervalo a que me dou o luxo, quando necessito de parar e respirar um pouco.
Esta mini-série, novela, filme de época alargado, ou como a preferirem chamar, passa-se em inícios do século passado. Um retrato de uma Belle Époque apropriadamente bacoca, onde os apelos por progresso coabitavam com condições laborais análogas á escravatura. Como ponto de equilíbrio tínhamos uma Monarquia enfraquecida por invejas externas e por demagogos de botequim internos. O rei estava só. Ter o apoio do exercito era da máxima importância. Criticava-se a falta de uma visão mercantilista para os assuntos do país, a falta de uma visão materialista.
O que me chamou a atenção no equador foi uma frase dita por uma personagem secundária, aparentemente sem importância: “Estes estúpidos de cá, ainda não perceberam que quanto mais ameaçado esta o rei, mais ameaçado esta o império.” Sinceramente, nunca antes me teria passado pela cabeça que seria em uma novela da TVI que veria resumida, em uma única frase a razão de ser do Estado Português: preservar. A Monarquia, primeiro, a I República, depois, e o Estado Novo, por último, autodestruíram-se na ânsia da preservação de uma certa portugalidade, embora ninguém soubesse exactamente do que isso se tratava. Foi preciso uma novela da TVI para me aperceber disso.
Foi então que me apercebi do brilhantismo da II Republica. Nada como regressar a antigos pontos de partida, de facto. O actual regime garantiu a sua sobrevivência precisamente porque a sua própria existência reside não numa tentativa de preservar algo, mas sim, numa paulatina entrega de tudo, numa bem-educada e politicamente correcta desistência. Vejamos, desistiu-se do Império com a descolonização, desistiu-se de um tecido empresarial forte com as nacionalizações, desistiu-se de uma sociedade civil livre com um Estado pesado e burocrata, desistiu-se da estabilidade com este semi-presidencialismo radicalmente parlamentar, desistiu-se do trabalho, do esforço e da poupança com o crédito fácil e a generalização do incumprimento. Perante as dificuldades das nossas deficiências estruturais, tornamo-nos bons mercantilistas, exímios materialistas e optamos por uma racional desistência. Apercebemo-nos de que, se mais nada nosso houver que possa ser ameaçado, então nós próprios não seremos alvos de ameaças, e poderemos continuar a nossa boçal existência em paz, no nosso cantinho, a ver os inigualáveis sucessos da nossa Selecção e a distrairmo-nos com aquela banalidade chamada “Caso Freeport”. Como me disse hoje um amigo meu, não vale a pena tentarmos fazer nada para resolver a crise, porque não temos condições para isso. Antes esperar que os outros a resolvam e que com isso nos tirem do lamaçal. A II Republica esta a entranhar-se no nosso espírito. Nisso é o regime politico de maior sucesso. Será que da falta de materialismo do Sr. D. Carlos passamos ao materialismo não racional e doentio do Eng. Sócrates?
Vou repetir-me, gosto de filmes de época, gosto de revisitar antigos pontos de partida, velhas encruzilhadas. São pequenas paragens de quem necessita d se por um bocado aparte do rodopio enlouquecedor da existência. É bom parar, voltar ao passado. Não nos devemos tornar meros autómatos. É necessário reflectir. Rever de onde viemos, para não nos esquecermos de quem somos. É bom rever antigas épocas, antigos mundos, pois eles muitas vezes não são mais do que sombras do mundo presente. E pensado nisso, o título da novela e da obra são bastante apropriados_ Equador. Afinal, o equador não é só a linha que divide a Terra em hemisfério norte e hemisfério sul. É também a linha de fronteira entre dois mundos

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Novas Oportunidades - Erro de casting

Este governo Socrateiro não convence ninguém. Parece-me, contudo, que porventura será o governo menos mau que tivemos. Só que isso não chega, não deixa de ser mau. Para mal de todos nós, Sócrates é intelectualmente fraco, mas mediaticamente fortíssimo. Curiosamente na oposição, a cassete que tinha a tocar era a de que o governo de Santana Lopes é que era o governo da cosmética e da irrealidade. A única diferença é que Santana Lopes tinha a fama e Sócrates tem o proveito.
Agora no governo é uma autêntica alíce no país das maravilhas, prestes a entrar num 2009 encantado. A sua política, ao invés de se centrar no governo eficiente de uma nação débil e na, consequente, resolução dos seus problemas estruturais, assenta na propaganda colorida, no mediatismo detalhadamente preparado que se consubstancia em aparições sebastianistas perversas e alheias às necessidades e realidade nacional.
O Magalhães encaixa, que nem uma luva, nisto.
O narcisismo de Sócrates provocou-lhe grande sofrimento psicológico quando o responsável de marketing escolheu o nome de um navegador português e não o de um filósofo grego.
Dentro desta forma de politicar surgiram as Novas Oportunidades. Todos já perceberam o alcance fictício, do ponto de vista pedagógico, deste programa.
Todos sabem que o objectivo não é qualificar nem enriquecer social ou culturalmente alguém.
O único a ter interesse neste programa é o governo. Meramente está presente o egoísmo obsessivo de apresentar estatísticas(antes/depois) desnexadas com a verdade qualíficacional da população.
Sócrates é um vendedor de ilusões. E as ilusões pagam-se. Mais tarde, mas bastante caro.
Se o governo pretendesse exercer o seu papel governativo orientado para a realidade nunca apresentaria um programa de qualificação e formação fictícia, desrespeitosa e fraudulenta.
De facto não faz sentido ministrar qualificação desnecessária e improdutiva a quem já tem a sua idade e mais importante a sua "oportunidade", quando existem montanhas de licenciados(muito mais qualificados do que qualquer outra simples vítima deste programa), sem vislumbrarem qualquer "nova oportunidade" num horizonte razoável. A boa governação exigiria a preocupação primeira pela solvência dos problemas dramáticos e estruturais que criam dificuldades de empregabilidade aos milhares de jovens licenciados e não a preocupação cínica e propagandística pelos que já têm o seu trabalho e irão gastar recursos que não trarão riqueza e produtividade a Portugal.

Uma questão de exemplo

A política e, principalmente, os seus agentes, os políticos acusam um enorme descrédito perante os portugueses.
Os cidadãos simplesmente não acreditam, não confiam e não podem gostar destes políticos.
Infelizmente cheios de razão. Eu que pretendo vir a assumir um papel político (para além deste) e que até há pouco tempo não embarcava neste sentimento, vitimizando e desculpando para além do admissível a classe política, sinto-me, no presente, terrivelmente incomodado face a tão vergonhosas situações.
Mais me repugna, o facto de serem episódios recorrentes e intemporais, como que enraizados na cultura de fazer política, quando deveriam vigorar valores totalmente antagónicos.
O caso que vos trago é paradigmático, pelo que podem as minhas conclusões e propostas ser objecto de desejáveis e urgentes analogias.
Ora não posso admitir que simples presidentezecos de câmaras municipais andem para trás e para frente de BMW, Mercedes, Audi ou Volvo, muitos com motorista e , do mesmo modo, os ministros nunca sentem os glúteos em carros inferiores a 75000 euros, enquanto os contribuintes se vão esforçando no quotidiano para assegurar-lhes tão bom nível de vida.
Qual a autoridade de algumas destas figuras para pedir sacrifícios? Qual a justificação que subjaz a tais gostos e vaidades não compatíveis com a nossa insignificância económica?
Não há um argumento válido, a não ser o de ter veículos que garantam um alto nível de segurança, mas este só é aplicável às grandes figuras, casos do PM ou PR.
O raciocínio que predomina é o seguinte: pedimos aos contribuintes para se sacrificarem porque os tempos são de crise e país é pobre, mas nós (políticos) continuamos a manter os mesmo luxos ridículos e desnecessários, e pior, gastamos tanto ou mais nestas mordomias que os países ricos.
Se os políticos franceses, espanhóis ou ingleses podem andar em bons carros, sorte a deles em serem ricos e fortes, mas o povo deles também vive melhor, é mais rico.
Temos de adequar os nossos desejos às nossas possibilidades, daí que lanço o desafio ao parlamento: elaborem uma lei que equipare o valor máximo a gastar na aquisição dos veículos ao salário mínimo nacional ou ao rendimento médio nacional comparativamente à nossa vizinha Espanha. Isto é, se em Espanha se ganhar 1000 euros de salário mínimo e o ministro da presidência tem ao seu dispor um carro de 150 mil euros o nosso homologo só poderá adquirir um carro baseado num valor proporcional à diferença do salário mínimo.
Se os carros não forem tão bons como são, talvez não se adquiram carros novos sempre que muda o presidente de câmara ou sempre que termina um mandato.O exemplo de Santana Lopes e o Audi 8 que gasta 20 e poucos litros/100 é apenas uma gota ilustrativa no panorama endividadíssimo das autarquias.
Porque não há diferença prática e racional em um presidente se fazer transportar num carro de 25 mil euros em vez de 60 mil euros.
É-me penoso abordar este tema, porque se insere num conjunto de questões sensíveis, em que facilmente que incorre em populismo demagógico.
Contudo, mesmo em temas sensíveis, o direito à critica não nos pode ser vedado, mas não poderá jamais ser mal interpretado.
Para mim, não está em causa o dinheiro que se gasta mal gasto, mas sim a desconsideração por quem lhes paga mordomias, iguais às de países ricos, tendo um rendimento disponível muito inferior.
Estão, a meu ver, verdadeiramente em jogo valores e princípios. Está em causa a aplicação da máxima de que “ o exemplo deve vir de cima”, que terá, concerteza, de ser transposta e imposta pela lei.
Porque, uma vez mais, temos aqui em evidência a falta de cultura democrática, de sensibilidade social e de adequação à realidade político-económica, pelo que só a lei poderá impor e instituir tais valores norteadores do exercício de cargos públicos.
Só respeitando os contribuintes, dando exemplos quanto à boa administração do seu esforço, poderão os políticos ser respeitados, ouvidos e credibilizados.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Pode o medo da Deflação lançar-nos em uma Inflação descontrolada?

É certo que não sou ninguém para fazer comentários profundos sobre a matéria. É certo, ainda, que não acrescentarei nada de novo sobre a questão. Porém, como vivemos em um Mundo onde é lugar-comum ter uma opinião fundada e profundamente pseudo-informada sobre o tudo e o nada, sob pena de sermos tomados por pessoas desinteressantes, ou pior, por fulanos sinceros no nosso desconhecimento, não me vou coibir de dar uma opinião sobre o perigo da deflação.
Ocorre que, neste último mês, muitos têm sido aqueles que alertam que a presente crise revela sérios sinais de se afundar em uma deflação. Memórias negras daqueles que não viveram as catástrofes da década de 1930 e que, para variar, falam de cor, retirando umas frases feitas de uns quantos manuais escolares ou da velha, mas conveniente, cartilha partidária. Não deixa de ser interessante presenciar a artificialidade do medo de quem participa no inicio do fim de todo um modo de vida. É impressionante como até as manifestações de receio parecem manchadas por uma dose de alheamento. Ainda há um ano o perigo do fim do Mundo residia em uma inflação descontrolada. Hoje, contudo, está presente na deflação e a inflação elevada é a nossa aliada para a combater.
Este género de raciocínio linear peca, a meu ver, pela sua estreiteza. Nem a inflação, nem a deflação são isoladamente o alfa e o ómega do Mundo como o conhecemos, antes pelo contrario, a relevância destas reside verdadeiramente quando tomadas seu conjunto, como se de siamesas se tratassem. Nesse sentido, e como estas não deveram ser tomadas isoladamente, para manter uma Sociedade em um nível certo, entre inflação e deflação, um equilíbrio entre muito e pouco crescimento económico revela-se necessário. A seguir a um movimento de expansão, segue-se um movimento de retracção, sendo que ambos não deveram ser descontrolados. A questão, todavia, não reside em uma qualquer fórmula matemática de cálculo exacto. Caso contrário, como justificar que de uma previsão de um lucro para 2008 na ordem de 60 milhões de euros, a TAP acabasse por anunciar um prejuízo na ordem dos 170 milhões? A Economia, enquanto ciência social, não é exacta. O elemento humano acresce-lhe uma dose de indeterminismo. Muito mais importante do que calcular activos e passivos, é a gestão das expectativas. Ora, esta, por seu lado, necessita de credibilidade, tanto por parte da Sociedade Civil, como do Estado. Assim sendo, é relevante assinalar no processo de capitalização da CGD a recusa pela Banca Internacional do aval do Estado Português. Será isto indício de que os níveis de endividamento do Estado estão já a ultrapassar o comportável? Os sucessivos anos de deficits e de ausência de superavits primários, tanto em períodos de expansão, como em períodos de contracção terá enfim corroído a credibilidade do Estado Português enquanto devedor? Não deixa de ser relevante o facto de em 2005, este ter descido da categoria AA para A- em matéria de capacidade e respeitar os seus débitos em organizações bancárias internacionais. Afinal, quando Keyneys defendeu na década de 1930 o recurso ao endividamento e a gestão de deficits crescentes, ou seja, o recurso a uma política orçamental que impulsionaria para patamares elevados a inflação, a divida pública do estado britânico rondava os 600 milhões de libras em 1932. Em 2008, porém, o Estado Português requereu ao BEI um empréstimo na ordem dos 40 mil milhões de euros. O contexto histórico entre estas duas situações será então certamente díspar. Daí, consequentemente, o risco de se lançar mão de velhas receitas que embora tendo funcionado no passado, não terão que forçosamente ser bem sucedidas no presente. Atender aos particularismos do caso concreto revela-se fundamental, pois, ao contrário do que muitos convenientemente mencionam, a História não se repete. Os Historiadores é que tendem a repetir-se.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Projecto estratégico - Desígnio nacional

O investimento estrangeiro criará emprego e gerará, em simultâneo, inovação e produção de materiais tecnológicos que, por sua vez, serão alvo de exportação, resultando globalmente em criação de riqueza.

















À luz desta incontestável construção lógica, não podemos deixar de apontar que as apostas estratégicas perspectivadas pelo governo são, manifestamente, redutoras, básicas, insuficientes e inconsequentes.
De facto, Portugal acaba de desperdiçar as duas últimas décadas, porque seguiu o caminho mais fácil. Seguiu o caminho que implicava menos coragem e nenhuma imaginação. Tais opções estratégicas descoordenadas traduziram-se em obras públicas, um pouco por todo o país, cujo financiamento foi alimentando descontroladamente, ao ritmo de 10% /ano, o aumento da dívida externa.
Não seria, de todo, gritante tal evolução da dívida caso os investimentos que a originaram, tivessem rentabilidade, no mínimo, superior aos encargos. Pelo contrário, assistimos a crescimentos económicos comparados sempre frouxos.
Qualquer política económica que radique, obstinadamente, em auto-estradas, comboios de alta-velocidade e aeroportos é pautada pelo facilitismo político. Alguém duvida de que a política do betão é a coisa mais simples que existe? A solução do puzzle está no enquadramento dos elementos potenciadores num quadro estratégico orientado para a ignição propulsiva do esquema lógico acima exposto.
TGV e Aeroporto sim, mas como braços-direito de um desígnio nacional, isto é, objectivados como meios que potenciem a concretização de todo um modelo económico. Isolados e encarados como principais objectivos nacionais nunca gerarão mais riqueza do que despesa, que se traduzirá em maiores transferências de capital para o estrangeiro( juros do financiamento) do que criação de valor cá dentro( aumento do PIB). Esta diferença é reflectida pelo Rendimento Nacional Bruto, indicador do bem-estar social. Fazer obras e investir desta forma torna-nos mais pobres.
Estão, portanto, enunciados os consecutivos erros estratégicos que podem resumir-se a uma simples inexistência de rumo, seria ridículo e infantil pela análise ficar-me.
Se tenho dito que seguimos nos últimos 20 anos o caminho laxista, não me cumpre, nada menos, do que apontar o caminho “difícil”.
“Difícil”, porque uma vez reflectido e estruturado, jamais poderá questionar-se a sua execução. O caminho difícil implica uma compilação estratégica, cujos desideratos últimos, só se verão concretizados a muito longo prazo, ao contrário do caminho fácil, em que constrói-se hoje e vê-se amanhã, sendo de um impacto constante e limitado. Para seguir o rumo correcto é preciso muita coragem, muita determinação, muita paciência e muito sentido de Estado.
Posto isto, a questão óbvia é a de encontrar os fenómenos que desencadearão interesse e, decorrentemente, investimento estrangeiro.
A mão-de-obra é uma palavra-chave. A mão-de-obra só será competitiva através do seu baixo custo ou pela sua altíssima qualificação e especialização. A nossa mão-de-obra só foi razoavelmente competitiva quando os salários eram muito baixos, tendo e bem perdido esse factor de competitividade. Salários baixos não é, já nem será o futuro. Daí que tenhamos de apontar baterias para a qualificação de elite dos portugueses e não só, como adiante explicarei. Na actualidade, a mão-de-obra nacional está num meio-termo, embora relativamente qualificada não o é o suficiente para figurar num ranking das mais procuradas e apesar dos vencimentos serem baixos, também já são elevados demais para ser condição de investimento.
Fica assente, então, que no contexto actual, só uma mão-de-obra de referência pode ser alvo de cobiça estrangeira, pelo que a questão é como alcançá-la.
Numa primeira fase teremos que edificar infra-estruturas de topo inseridas num pólo tecnológico. Se ambicionamos oferecer e ministrar um ensino de excelência ter-se-à de dispor de meios físicos de excelência. Temos de construir as mais avançadas infra-estruturas universitárias do mundo, designadamente construir o melhor laboratório que alguma vez existiu. A excelência, inovação e magnificência serão os padrões orientadores das infra-estruturas orientadas para as vertentes científica e tecnológica. Outro fenómeno que será desafiante e, imensamente, estimulante é o da integração e interacção do actual ensino superior com este pólo universitário originando um super-cluster.
No entanto, não basta ter as melhores instalações para aumentar a competitividade do nosso ensino. Há que preenchê-las com os melhores. A aposta deverá ser, igualmente, forte no corpo docente. Temos de entrar num autêntico mercado da massa-cinzenta, pagando mais do que os outros. Alguém tem dúvidas de que os cérebros portugueses que exercem a sua actividade no estrangeiro, prefeririam ficar em Portugal se pagássemos o mesmo, com as mesmas condições?
Temos de inverter o processo de que fomos vítimas ingénuas. Trazer de volta os nossos investigadores e cientistas e atrair os seus congéneres estrangeiros. O esforço financeiro a fazer para contratar os melhores tenderá a ser menor quanto maior for o prestígio, daí que a alavancagem inicial reveste-se de assinalável decisividade. Um outro efeito associado ao aumento exponencial do prestígio é a atracção natural dos melhores alunos mundiais, mormente asiáticos, que procuram o melhor ensino(melhores instalações e melhores professores), que acabarão muitos deles por estabelecer um vínculo emocional e profissional com o nosso país, contribuindo para a aceleração e consolidação de todo o projecto.
Estruturado que esteja este pólo universitário de referência, está criada a alavanca desencadeadora do tão almejado investimento estrangeiro que gerará muito emprego. A sinergia do pólo com o investimento suscitará a inovação e desenvolvimento de produtos científicos e tecnológicos dentro das nossas fronteiras, evitando as importações e fomentando as exportações, combatendo agressivamente o défice comercial. Como corolário final deste projecto estratégico, atingiremos taxas de crescimento económico muito acima da média, ou seja, criação de riqueza, sem que daí resulte transferências externas avultadas, bem pelo contrário.
Resta-me concluir dizendo que a nossa felicidade está aqui. Está a uma distância de 15, 20 anos. Duas décadas de paciência e determinação para compensar duas décadas de erros. Inverteremos a nossa realidade e contrariaremos a que nos espera. Porque actualmente, 6% do nosso PIB serve para pagar juros da dívida externa, consequência de obras que criaram menos riqueza do que despesa. E em comparação, e não se riam nem chorem, a percentagem do PIB afecta ao ensino superior fica-se pelos 0,71%. Estes números por si só revelam a inexistência estratégica de um país que governa a pensar no amanhã de manhã e masoquísticamente vai repetindo a receita do investimento público avulso e imediato. Pensem nisto: sabem qual a pior coisa que nos pode acontecer se decidirmos tentar ser felizes?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Quota de renovação parlamentar

Muito se fala de renovação política, muito se fala de renovação de ideias, muito se fala de mudança, mas importa aferir qual o contributo e vontade dos que falsamente a proclamam, nomeadamente a actual classe política, aqueles que têm de sair para libertar espaço.
De facto, as estruturas intermédias e de topo dos partidos são completamente imutáveis, não se registando ascensões de base encaradas como um fenómeno natural e cíclico.
Mas também nos salta à vista que os dirigentes partidários estão esgotados, ultrapassados mas não sabem nem querem ceder o lugar a sangue-novo, reformista e dinâmico.
Não gosto de imposições legislativas, mormente imposições cívico-politicas, mas quando os titulares de cargos públicos não sabem exercer e respeitar os mais elementares princípios de vivência político-democrática, surge aqui a necessidade de instruí-los a “saber estar”, e principalmente, de educá-los a “saber sair”.
Esta proposta que vos apresento, deveria ter sido adoptada logo nos primeiros passos da nossa democracia, de forma a criar hábitos e moldar comportamentos, impor regras de exercício, criar uma cultura de exercício de funções politicas compatível com as regras democráticas.
Acham que são os políticos actuais que nos vão oferecer o futuro que desejamos?
Ninguém acredita neles, ninguém tem esperança neles, mas ninguém pode substitui-los porque eles estão agarrados ao poder.
Daí que proponho, sem a mínima hesitação, a criação de uma quota de renovação partidária em que uma fracção assinalável de deputados teria de ser substituída de legislatura para legislatura, criando assim uma nova vaga que percorreria os partidos cheia de energia, esperança e motivação.
Quando Cavaco Silva questiona o o facto dos jovens não se interessarem pela política, a resposta resume-se a uma palavra: oportunidades.
Os jovens, em primeiro lugar, não têm sentido necessidade de intervir, de se mobilizar, vivendo as suas vidas sem questionar o mundo à sua volta, atitude que poderá vir a sofrer alterações em virtude do agravamento das condições sociais e económicas.
E por outro lado, os poucos jovens, mas suficientes, com vocação e interesse, sentem-se totalmente estrangulados e asfixiados numa hierarquia partidária estanque em que o mérito pouco conta, ao contrário do lambe-botismo.
Que mundo sujo é este, em que as oportunidades a que deveríamos ter acesso para podermos impor as nossas ideias e valor são-nos negadas?
Assume-se portanto de extrema urgência a criação de medidas legislativas que promovam a renovação partidária obrigatória, sendo este um dos mais importantes contributos para essa causa. Mas, em Portugal, os acomodados desviam as atenções para quotas de mulheres, sendo a quota de renovação parlamentar , esta sim, uma proposta que merece ser debatida e pensada a bem da democracia.

Futebol Português – Novo modelo competitivo

É mais do que óbvio que o futebol português atravessa graves dificuldades financeiras, tendo por isso o seu futuro verdadeiramente ameaçado.

Na origem destes problemas financeiros está a baixíssima capacidade de produzir receitas, de vender eficazmente o produto futebol.

O que acontece hoje em dia é que só 6 ou 7 das 16 equipas do escalão principal é que apresentam saúde financeira minimamente aceitável.

Todas as restantes serão uma vítima da inércia destruidora e insustentável a que o futebol português está votado.

Isto é, se a conjuntura se mantiver, e irá manter-se se nenhuma intervenção de fundo se realizar, estes clubes terão que fechar a porta.

É uma inevitabilidade.

Portanto, eu acho fundamental reformar o modelo competitivo.

Temos de obrigatoriamente de operar uma redução do numero de clubes.

Entendo não haver condições para ter mais do que 10 clubes em Portugal.

Esta reformulação da estrutura competitiva permitiria fortalecer a robustez financeira dos clubes já anteriormente viáveis, bem como seria um jackpot para aqueles clubes que mais cedo ou mais tarde encerrariam, dando-lhes assim oportunidade de finalmente atingirem patamares de estabilidade financeira bastante tranquilos.

Porque o que realmente interessa é existirem mais jogos entre os grandes, mais jogos entre boas equipas, mais jogos com bons jogadores que assegurem de antemão um espectáculo de qualidade.

E o que não interessa, apesar de esta afirmação ser politicamente incorrecta, é jogos entre a académica-naval, entre o Setúbal e o Leixões, e por ai adiante. E digo isto porque já vi estes jogos várias vezes e a qualidade dos intervenientes é tão irritante, que não só não atraem ninguém, como afastam do futebol aqueles que antes iam. Nem com bilhetes à borla estes jogos merecem a deslocação ao estádio. Esta é a mais pura das verdades.

O que eu quero é que estas equipas joguem mais vezes com equipas boas e aumentem as receitas para poderem investir no seu plantel e terem também um produto próprio de qualidade para apresentar nos relvados.

A crítica de que já temos poucos jogos e a redução de clubes agudizaria ainda mais a questão não é aceitável, uma vez que pretendo mais jogos ainda, mas jogos com interesse, isto é, em vez do Benfica e o Porto se defrontarem duas vezes por época , passariam a jogar 3 ou 4 vezes dependendo do esquema competitivo a adoptar, por exemplo playoff.

Outra crítica: a de que isto acabaria com as equipas que tinham que ir para a segunda divisão é, também, absurda porque essas equipas iriam acabar era se continuassem na primeira divisão actual. Não nos podemos esquecer que a maioria das equipas tem salários em atraso e não vejo uma inversão notória e convincente da evolução dos passivos. O que vai passar é que em vez do futebol português ficar reduzido a 7 clubes débeis, ficará com 10 clubes viáveis e robustos.

Só com uma competição interna com elevados padrões de competitividade e qualidade é que conseguiremos impor-nos no futebol europeu, ou por outra, aumentar o ranking português para colocar mais equipas para trazermos mais dinheiro.

Até os contratos publicitários e televisivos teriam um valor redobrado quando renegociados em virtude do maior interesse que os jogos suscitariam traduzido em audiências televisivas consideravelmente superiores.

O caminho é este, o de reduzir o número de clubes. Mas o problema surge quando se pretende efectivar a mudança depois de diagnosticado o problema e encontrada a solução.

O interesseirismo do dirigismo desportivo, acompanhado da incultura e ignorância que lhe é intrínseco, torna a adopção desta reforma completamente impraticável.

Os dirigentes desportivos querem estar no poleiro o máximo de tempo, e para isso precisam de resultados, que passam pela manutenção na primeira divisão, mesmo tendo consciência para onde arrastam o clube. Mas como não lhes interessa o seu clube, mas sim o momento em que lá estão e podem desfrutar, no mais amplo sentido, não poderiam de forma nenhuma aceitar e votar a implementação de medidas que colocariam o seu tacho em risco.

Sinto-me a partir deste momento exonerado de qualquer responsabilidade pelo rumo do futebol português uma vez que o caminho está traçado, faltando somente levá-lo a cabo.